Uma viagem que acredito ser muito subestimada é uma trip de Surf para o Equador. Região da América Latina, onde tem muitas ondas boas, e se estiver com o conhecimento dos picos e da região alinhado a melhor época pega muito pouco crowd.
Um país relativamente perto do Brasil com um voo muito tranquilo para Guayaquil em torno de 8h50 total da viagem saindo de Guarulhos – SP, com uma conexão geralmente em Bogotá ou Lima, com preços similares a uma trip pela América Central, até mais barato uma média de 2,5K com as taxas. Depois da chegada em Guayaquil mais 1h20 de carro, você já está no litoral na região de Montanitas.
Nosso plano era ficar 8 dias em Galápagos (ilha do Equador mais turística do país) e mais 5 dias nesta região de Montanitas. Monitoramos uma boa passagem e agendamos para o mês de março, que alinhava as férias de todos e um bom preço de passagem.
Chegada à data da viagem, na ida tudo certo para embarcamos, e assim que chegamos em Guayaquil nem descemos na cidade e já pegamos o voo interno para San Cristobal em Galápagos, onde geralmente ocorrem as melhores ondas das ilhas na região. Em torno 1h50 de voo já pousávamos nesta ilha paradisíaca, onde realmente é um lugar diferenciado.
O arquipélago de Galápagos é considerado um santuário de espécies animais silvestres, e para nós surfistas, a ilha de San Cristobal é um verdadeiro paraíso do surf. Onde Darwin criou sua teoria é um lugar que inspira a todos.
São diversas ondas clássicas como Loberia, Craters, Punta Carola, El Cañon, Tongo Reef, Manglecito entre outras com direitas e esquerdas de alta qualidade. As ondas rolam o ano todo sempre com pouca gente na água, alguns meses recebendo ondulação de norte e em outros meses ondulação de sul, esta época de novembro a abril são as consideradas mais constantes e ativas com qualidade no vento e ondulação.
Foram 8 dias de muito surf, pegamos uma onda que chama Veleiro, uma esquerda manobrável clássica abrindo 3,4 manobras sem ninguém, Loberia que de fora parece assustador pelas pedras e lobos marinhos por todos os lados, mas quando você entra na água e pega as ondas vai se acostumando com o clima e o lugar e já se sente parte daquele ambiente. Surfávamos cedo, logo depois do café da manhã, e quando voltávamos íamos descansar na pousada ou dar um role no centrinho para almoçar e fazer as quedas finais de tarde em Tongo reef ou em Punta Carola, onde a melhor maré estava para o período da tarde.
Dentro destes 8 dias, mergulhamos muito, (Galápagos um local extremamente recomendável para prática de mergulho) pois além dos leões marinhos que citei, é possível encontrar tartarugas gigantes, arraias e muitos peixes por ali, um lugar muito preservado. Ao andar pela ilha parece um parque zoológico, vimos também muitos dragões de Komodo que habitam a região e focas para todos os lados. Estes 8 dias foram incríveis, e agora vou contar sobre a segunda parte da viagem.
Como previsto iriamos voltar a capital do Equador, onde exploraríamos a região de Montañitas por mais 5 dias, isso era em torno do dia 6 de março de 2020 e as conversas sobre a pandemia se intensificavam, ficava cada vez mais evidente que algo muito sério estava acontecendo, mas como tudo era novidade e diversas notícias desconexas por todos os lados, nos juntávamos e na decisão em grupo ainda continuamos e arriscamos manter a trip normalmente, pois não tínhamos ideia da gravidade do que foi o assunto em pauta, e a região em si ainda apresentava normalidade.
Chegamos em Montañitas, realmente a onda é muito boa de qualidade, uma direita performance perfeita, água quente, algumas sessões em pé e outras mais cheias, um surf fácil, com pouca corrente, parece uma piscina de ondas, mas realmente como muitos relataram é um pouco crowdeada, com certo localismo. A vantagem é que pela costa ao redor de Montañitas tem muitas outras ondas, que não vou mencionar o nome aqui, a pedido de alguns locais para não divulgar, porém mesmo sem conhecer ninguém, surfamos e pegamos altas ondas sozinhos.
O pico central a se hospedar mesmo nesta região do litoral do Equador é em Montañitas, onde é conhecido também pelas badalações noturnas, bares e festas… tem muitos restaurantes, mas é um pico extremamente agitado com clima de festa por todo o dia e noite.
Íamos surfando e conhecendo estas ondas pelo litoral, consideradas secrets, e não acreditávamos no potencial de tudo aquilo sem ninguém. Foram realmente dias mágicos.
A partir do terceiro dia por lá, começou a apresentar sinais e notícias de que o país iria fechar, todos os estabelecimentos, hotéis, restaurantes já nos noticiavam que era muito sério e precisamos embora o quanto antes.
Do clima de paz e cabeça feita do surf, saímos para um clima tenso e de preocupação com nossa saída do país e volta para o Brasil. Foi uma loucura entre ligações para a companhia aérea, família no Brasil, volta para Guayaquil, encontrar pessoas que nos levassem, encontrar voo de volta, postos, hotéis, tudo fechou de uma vez. Vou resumir pois foi uma história que no final deu tudo certo, voltamos no último voo de repatriação antes de fecharem os aeroportos, mas foi um caos, e conseguimos sair no limite antes dos dois últimos dias programados da nossa viagem.
No final espero voltar para esta região do Equador, para conhecer e surfar novamente alguns picos, e sem este pesadelo que foi a pandemia no meio do caminho.
Por Danilo Kazu.